Uma prateleira abarrotada e outra inacreditavelmente vazia…

Imagine uma cozinha com duas prateleiras, uma completamente cheia de farinha, leite, ovos, azeite, sal e alho. A outra completamente vazia ou cheia de nada.

Uma cozinheira pode criar diversos pratos com o que há na prateleira cheia. Desde ovos fritos, até espaguete alho e óleo, passando por panquecas com pedaços de alho e ovos mexidos. Talvez possa fazer outras poucas variações. Pode, com esses pratos, matar a fome de alguns famintos. Vai cansar de apresentar as mesmas variações, porque esses são os ingredientes disponíveis na prateleira.

Talvez a cozinheira somente saiba preparar pratos com esses ingredientes, ou talvez fique tão acostumada a cozinhar os mesmos pratos, que desaprenda todo o resto, esqueça que existem milhares de outras opções, porque, afinal de contas, lhe foi subtraído o direito de escolha. Há somente uma prateleira com um conjunto de itens, estimulando-se com isto a criação de um hábito.

Do ponto de vista nutricional, a tendência é que todos os que dependem desta cozinha sejam levados a desenvolver doenças por falta de nutrientes importantes, alguns desenvolverão deficiências visuais, auditivas, motoras, outros talvez venham a morrer. Há centenas de doenças provenientes de uma má alimentação.

Isso tudo pode parecer absurdo, mas é exatamente assim que os fornecedores de cosméticos estão trabalhando o mercado de salões.

Há uma prateleira com produtos, abarrotada, e outra de conhecimentos, inacreditavelmente vazia. Conhecimento sobre negócios, empreendedorismo, tecnologia de informação, marketing, finanças, logística, recursos humanos, liderança, legislação, qualidade, e tantos outros temas de gestão. Conhecimento técnico aprofundado sobre ingredientes ativos, ação e reação de produtos químicos, higiene, saúde pública. Conhecimento sobre estilos, tendências, moda, arte. Conhecimento sobre como misturar tudo isto para produzir mais e melhor. Conhecimento e discernimento para que os salões se protejam do “fogo amigo”, patrocinado pelas marcas que atuam no varejo, que iludem proprietários com a demanda estimulada e com o auto-serviço e com o financiamento de “formadores de opinião”, cujo único interesse é engordar suas próprias contas bancárias.

Todos querem vender produtos, mas esta prateleira está cheia. Há pouco ou nada que se possa fazer com produtos diante de tanta necessidade de conhecimento. Com essa prateleira vazia o cardápio será sempre o mesmo.

Torna-se necessário inovar na fórmula de comercializar produtos cosméticos para cabelos, que devem ser considerados insumos para a prestação de serviços. Empresas prestadoras de serviços dependem de conhecimento. Nelas os produtos são atores coadjuvantes.

É hora de preencher a prateleira do conhecimento, para que o segmento possa projetar um futuro bem melhor, distante da frágil configuração varejista que lhe foi imposta por seus fornecedores, que precisam urgentemente revisar suas estratégias para ter expectativas de sobrevivência, particularmente aqueles que dependem exclusivamente de Salões. Os outros já abandonaram o barco há muito tempo e só os Salões não perceberam.