Há alguns dias me deparei com uma dezena de programas em canais fechados que falam sobre soluções de problemas humanos que se tornam graves ao longo do tempo.
É o caso dos acumuladores, dos portadores de doenças de pele, do ambiente degradado de um lar, das pessoas que ganharam ou perderam peso demais, das pessoas que se vestem de uma forma esquisita, do comportamento agressivo de mãe e filha quando ambas vão dar à luz em períodos próximos, das pessoas que se alimentam de uma forma completamente errada, além de outras situações que são tratadas em programas nos canais de TV a cabo. Uma boa parte destes programas veiculam no Discovery Home & Health.
Depois de assistir a uma dezena desses programas eu fiquei pensando: “puxa… será que esses seres problemáticos não conseguem ver coisas tão óbvias e procurar um caminho adequado de solução sem que seja necessária a intervenção de um especialista?” A resposta é não. Eles não conseguem. Assim como cada um de nós não consegue perceber coisas óbvias que nos encaminham para problemas para os quais não vemos solução. Então os problemas aumentam e as soluções não acontecem. E quando nos damos conta estamos envolvidos em um processo e tentamos nos justificar de dezenas de formas, criamos barreiras à ajuda e aos conselhos, formamos um exército de proteção para que a atitude correta não entre em nossa vida. Esta é a natureza humana. E assim caminha uma parte da humanidade.
“Qualquer idiota faria isto”, “todo mundo estava vendo que aconteceria”, “eu já tinha falado”, “eu não sei como o cara não viu que…”. Estas são algumas das centenas de possíveis frases que apontam para uma situação desviada, ou de uma história que pode acabar muito mal se nada for feito, se ninguém fizer uma intervenção, se não for praticada a autocrítica e uma revisão dos posicionamentos pessoais permanentemente.
E o que um salão de beleza tem a ver com isso?
Tudo. As frases acima são todas de proprietários, gerentes e colaboradores de salões de beleza. É fundamental compreender que na maioria dos casos, trabalhar o comportamento humano é um grande desafio. Há pessoas que querem mudar. Há outras que não. Há pessoas que querem melhorar. Outras não. Há pessoas que querem ajuda. Outras não. Há pessoas que querem ajudar. Outras não. Normalmente estamos no meio de todas estas situações administrando o comportamento dos outros e os nossos, que muitas vezes não temos condições de compreender. Ora, se não compreendemos a nós mesmos, se não conseguimos compreender e aceitar nossas limitações, se não sabemos o que fazemos muito bem e o que não temos condições de fazer por falta de conhecimentos, habilidades e atitudes adequadas, como poderemos compreender e ajudar os outros?
Nossos comportamentos x comportamento do consumidor
Em um salão de beleza, ainda há uma terceira variável, que é a prioritária em relação à estratégia de manutenção e crescimento que é a excelência no atendimento. O comportamento do consumidor. Então imagine agora a complexidade de um ambiente, onde as pessoas vão para buscar beleza, melhoria na imagem, bem estar, equilíbrio, compensação de frustrações e outras coisas mais. É sempre mais e não menos. Então não há como tratar de aspectos comportamentais com superficialidade, nem com pensamento de que as coisas vão se resolver mais adiante de forma automática. Se há problemas de comportamento haverá necessidade de intervenção, com o olhar amadurecido e com sabedoria. As pessoas não melhorarão porque alguém falou. As pessoas somente melhorarão, em coisas óbvias, se lhes for dado o caminho, a orientação e o acompanhamento necessário no processo de melhoria ou de mudança. É fundamental estabelecer vínculo de credibilidade e de confiança. E quando o líder compreender que as pessoas podem melhorar se ele melhorar, as coisas podem ficar um pouco menos complexas.
A simplificação inicia no processo de recrutamento e seleção.
Quem busca excelência precisa se afiliar a excelência. Dificilmente um salão conquistará padrões elevados de qualidade com uma equipe que não se preocupa com qualidade. Já sabemos que quando o proprietário não se preocupa com qualidade a grande maioria da equipe também não se preocupa com ela. Já sabemos que quando alguém quer um time de elevada qualidade, precisa se ocupar com questões de qualidade desde o recrutamento e seleção. Buscar pessoas equilibradas, com visão ampla do mundo, interesse e potencial em se desenvolver, senso de equipe e orientação ao atendimento das necessidades dos clientes, senso estético e postura ética, hábitos adequados de higiene e limpeza e que atuem com alegria, é um passo importante para formar uma equipe orientada a excelência.
Então é possível perceber que esperar atitudes óbvias das pessoas gerará frustrações. As pessoas não agem com obviedade. E o desenvolvimento de atitudes óbvias por quem não as tem pressupõe apoio, ajuda, acompanhamento e estímulo permanente.
Se você for proprietário, gerente ou coordenador de um salão de beleza e ainda não se compreendeu, dificilmente compreenderá e aceitará que atitudes simples, como colocar uma máscara de proteção para realizar serviços de unhas, são tão difíceis de implantar quanto curar um alcoólatra. Somente uma pessoa que se compreende aceita o fato de que coisas simples podem ser extremamente complexas e que melhoria depende de vontade, domínio, tempo e perseverança, sabendo de antemão que alguns casos, situações e fatos são definitivamente imutáveis.