O Brasil nunca foi um país de números muito precisos. As estatísticas sempre possuem contradições, as fontes não convergem e todos os prognósticos são baseados em dados no mínimo questionáveis. O assunto aqui não são as queimadas na Amazônia, mas Salões de Beleza.
Se você preguntar ao Google quantos salões há no Brasil, você vai encontrar algo próximo de 600 mil salões nas primeiras respostas. Por muito tempo o número girava em torno de 500 mil e talvez ele também apareça numa das primeiras posições. Um número impressionante, pois se dividirmos a população brasileira de 210 milhões de habitantes, ou próximo disso, pelos tais 600 mil, teremos um salão para cada 350 habitantes e 420 se for utilizado o número antigo.
O número é mágico, porque quando se mistura a atividade informal tudo pode ser verdade ou mentira. O número de salões registrados na Receita Federal com CNAE de salão de beleza, 9602-5-01 é de 57.176 salões, dos quais 41.393 possuem de 0 a 4 empregados. Pode ser considerada empresa com CNPJ o MEI, mas ele não está nessa estatística. A estatística do MEI é outra.
Atualmente são 698.208 pessoas registradas como MEI, porém um percentual significativo destes Microempreendedores Individuais possui contrato com os maiores salões do Brasil que são 1661, que fazem parte dos 57.176, com 20 empregados ou mais, tomados como referência em um período anterior à lei que validou o contrato entre profissional e salão como parceiros de negócios. (Lei 13.352 de 27-10-2016).
Esses números foram extraídos no dia 09/09/2019 do site do IBGE. Podemos ter outros números de outras fontes com outras datas. Este é sempre o problema brasileiro.
Isso quer dizer que há uma probabilidade de não termos 600 mil salões de beleza, eles podem ser um pouco mais da metade disto. O número de salões informais caiu muito depois da lei que estabeleceu o MEI, mas apenas 57 mil podem ser considerados uma empresa no conceito mais tradicional. É melhor se acostumar com esta ideia diferente. Além disto, os salões nunca sofreram tantos ataques como atualmente. O consumidor se esgotou de salões de baixa qualidade e a maioria dos salões de pequeno porte nem sequer se aprofunda nas questões de qualidade com seus clientes, em plena era da experiência.
Há empreendedores que investem cifras acima de um milhão de reais e que, em um período próximo de noventa dias, fecham as portas. Salão de beleza é uma atividade extremamente complexa, cheia de detalhes específicos, uma exigência elevada por parte do consumidor, que possui cada vez mais opções para satisfazer a sua necessidade de embelezamento. O número de salões que encerra atividades é expressivo e precisa não só ser levado em consideração, como também servir de advertência a quem acredita que salão de beleza é um negócio de fácil gestão e de alta lucratividade.
Um indicador importante também é o do número de marcas de cosméticos que deixaram de ser exclusivas para o mercado profissional, simplesmente pelo fato de que o volume demandado pelo “canal” salão de beleza é baixo, assim como a margem líquida. Poucas marcas permanecem com a bandeira de exclusividade para salões. Se o segmento de salões fosse tão forte e crescente não haveria necessidade de marcas importantes migrarem para outros canais.
É hora de começar a procurar os números corretos, para tratar o segmento com a seriedade necessária e para que o segmento se veja na responsabilidade de responder aos anseios de quem deposita confiança nos prestadores de serviços. Se o número de salões está reduzindo é porque há questões importantes a serem tratadas. E talvez elas sejam urgentes.