Salões: sobram vagas, faltam profissionais qualificados

O longo processo de formação profissional
O longo processo de formação profissional

Quando a maioria dos salões procura profissionais para preencher vagas para cabeleireiros, manicures, recepcionistas se deparam com uma enorme escassez de mão de obra qualificada, seja para funções de base até funções gerenciais.

A preparação de um bom profissional na área da beleza é um processo complexo e no Brasil tratou-se, como quase tudo, de simplificar a abordagem de qualificação. Nesta visão, bem brasileira, quando você termina um curso de qualificação, você está, segundo os anúncios de venda de cursos, “pronto para atuar”. A verdade do mercado, porém, é bem outra: pouquíssimos daqueles que saem de uma instituição de ensino profissionalizante estão preparados para atuar com certeza nos resultados que serão oferecidos aos clientes.

Há ainda outra inversão de valores. As instituições alimentam a tese da preparação para um trabalho autônomo, mas do outro lado, o dos salões, há dúvida sobre a forma de contratar autônomos. A contratação de autônomos no segmento está em discussão e, talvez, longe do fim, porque o gerenciamento de um quadro de autônomos é muito diferente do gerenciamento de um quadro de empregados com carteira assinada. Autônomos devem ter autonomia e a grande maioria dos salões não compreende o significado legal desta palavra.

Na atualidade, quem deveria formar mão de obra para o segmento, está formando mais concorrentes para os salões estabelecidos. Coisas do Brasil: o empresário paga o sindicato patronal, a federação patronal cogerencia a organização de formação de mão de obra e esta, ao invés de formar mão de obra, forma empreendedores para competir com quem paga para ter mão de obra.

Em decorrência disso tudo, a qualificação e o desenvolvimento de profissionais da beleza apresentam um enorme estrangulamento que não se deve necessariamente e somente a falta de alternativas, mas também a ausência de “fome de saber” do contingente de mão de obra que se direciona ao segmento. O básico ou menos que ele satisfaz, mas o básico será sempre só a primeira parte de um longo caminho para quem quer se aperfeiçoar e operar com diferenciais verdadeiros, oferecendo o melhor para seus clientes.

Atualmente um cabeleireiro, fazendo algum esforço, tem uma retirada bruta de R$ 2.000,00 em média, como autônomo em salões de médios para pequenos, de médio movimento. Este valor talvez seja a origem de uma parte dos problemas, porque média é uma medida de referência. Quando todo o  mercado opera de forma equivocada, a média traduz a “mediocridade” do mercado. Assim a média só aponta para algo que não funciona na prática por três principais motivos:

  • Primeiro porque este valor de referência não representa a amplitude de remuneração possível de ser atingida no mercado. Uma boa parte dos cabeleireiros que chegam a atingir retiradas de R$ 2.000,00 está muito longe do desempenho de um autônomo de alta efetividade, que pode, individualmente, obter rendimentos de mais de R$ 10.000,00 mensais, como parceiro de um salão bem gerido.
  • Segundo porque é sabido que R$ 2.000,00 significa uma remuneração que dobra o salário mínimo vigente e está muito próximo do salário médio do trabalhador brasileiro, representando um enorme avanço para quem opera no segmento, mas isto descaracteriza o potencial humano de entrada, cuja ambição máxima frequentemente se fixa neste patamar.
  • Terceiro porque os consumidores, de quase todas as classes, exigem qualidade elevada de resultado. Esta qualidade normalmente é garantida por quem possui maior competência. Isto nem sempre está claro, porque um enorme contingente de clientes que deixam os salões não expressa, de forma objetiva, nenhum descontentamento. Os clientes simplesmente vão embora e não aparecem novamente, como acontece em situações semelhantes em outros segmentos. Como pouquíssimos pesquisam os clientes que vão embora, a informação sobre motivos da “evasão” do cliente normalmente inexiste. Os clientes vão embora, ficam os profissionais com a qualificação inalterada.

Na prática, quando um salão busca um profissional utilizando os meios de recrutamento mais convencionais, ou seja, jornal, anúncios em sites de empregos, anúncio nas escolas, em geral, tende a se decepcionar enormemente. Muitos proprietários e gestores de salões compreendem a necessidade de contar com profissionais que objetivem rendimentos de R$ 10.000,00 e não de R$ 2.000,00, mas sobram cabeleireiros de R$ 1.500,00 e praticamente inexistem cabeleireiros que atingem R$ 10.000,00, como retirada média mensal.

Uma parte deste problema ocorre por culpa dos próprios empresários do segmento que também se equivocam nas suas decisões de seleção, retenção e desenvolvimento do quadro de colaboradores e parceiros. E talvez esteja aí um pedaço da solução. É fundamental apoiar os profissionais no processo de desenvolvimento profissional, começando pela construção de um sonho que os motive em relação à sua própria qualificação. Isto vale para todas as funções de um salão de beleza. Dentro disto deve-se considerar que um profissional deve ter no mínimo duas áreas de competência: técnica e humana. Desenvolver uma pessoa tecnicamente não garante tratamento adequado ao cliente e convivência positiva com a equipe, que é a segunda parte de desempenho a ser observada.

Vamos aprofundar essa discussão em outro artigo aqui no Blog HPPO. Por enquanto é importante compreender que recrutar, selecionar, treinar e desenvolver pessoas no segmento é um desafio muito maior do que se imagina. Como repetimos insistentemente: depois de saber exatamente o que fazer, precisamos ter consciência que este processo tem início, tem meio, mas não tem fim.