Sim, a demanda por serviços de salões de beleza está cada vez mais comprimida e não por falta de potencial de demanda, mas por falta de visão empreendedora. A demanda está comprimida por miopia na formação de mão de obra; pelo uso de um modelo de relacionamento entre salões e profissionais que não encontra, na maior parte dos casos, respaldo legal; por falta de atenção às reais necessidades do público consumidor; pela ausência de modelos de negócio que sejam compatíveis com a nossa era e muito mais.
Fazer o que todo mundo faz já não é suficiente para manter a demanda de um negócio, seja de que ramo for. É necessário ir além e, neste ponto, os salões possuem muitas limitações. A grande maioria dos empreendedores de salões casou com a sua respectiva profissão e ama o que faz, mas isto não significa que possa ir além do que faz como empresário. Não há nada de errado nisto, mas esta situação não oferece conexão com o atendimento de um grande volume de demanda.
O perfil do empreendedor “nato” é muito diferente do perfil do profissional da beleza convicto, que normalmente é “situacionista”. Um está lá para fazer negócios, se diferenciar, crescer, multiplicar. Este empreendedor ama empreender. O outro está lá para fazer o seu trabalho, está micro ou pequeno empresário e assim vai permanecer pelo resto da vida porque ama a sua profissão, ama o que faz e isto o faz feliz.
Ainda há algo que vai além da visão empreendedora, que é a visão de gestão do dia-a-dia. Administrar um negócio seja micro, pequeno, médio, ou grande, exige uma disciplina enorme para que as coisas saiam a contento nas diferentes funções da administração e para atender às expectativas dos clientes. Esta também não é uma tarefa assimilável pela grande maioria dos proprietários de pequenos salões.
Um dos poucos casos de adequação de perfis, no Brasil, se deu no caso do Salão Beleza Natural. Ele passou de quatro a trinta e uma unidades em um período de quatro anos, conta com gestão profissionalizada, tem objetivo de crescimento, atende a um mercado específico, possui elementos de inovação nos processos de prestação de serviços e traz junto com ele uma fábrica de produtos. Não é para menos que recebeu um investimento de R$ 70 milhões de um fundo de investimentos. Então o problema não é o mercado, o problema está no perfil dos empreendedores e na modelagem dos negócios.
Há muitas redes que surgem sem dar solução aos principais equívocos do segmento, centrados nos problemas legais trabalhistas e tributários. Então uma rede não será sustentável, porque o modelo de negócio é incompatível, na grande maioria dos casos, com o sistema legal vigente. O governo pode fazer vistas grossas para os erros e omissões dos salões, mas um dia o segmento será invadido por ações fiscalizadoras e o risco se tornará insuportável para negócios que foram desenvolvidos com base legal pouco sólida.
O segmento, para atender a uma grande demanda, deve receber novas propostas de operação e oferece uma enorme oportunidade para quem inova e transforma. Fazer o mesmo muito bem feito, não significa nada diante de um mercado ávido por demanda de qualidade, independentemente de classe social. Será que você está neste jogo?