A vida além da “caixinha de surpresas”

Há inúmeras frases que tentam dizer ou explicar o que é a vida. Uma delas diz, com precisão,  que a vida é uma “caixinha de surpresas”. Muitas coisas que acontecem em nossas vidas estão completamente fora do previsível e vêm para mudar tudo.

Temos que enfrentar a tal “caixinha de surpresas” como uma realidade de nossa caminhada sobre este planeta e compreender que há uma parte de nossas vidas sobre a qual não temos a menor possibilidade de intervenção. Quando viemos a Terra temos que enfrentar forçosamente uma parte destas questões, pois não nos coube nenhuma escolha sobre a nossa própria concepção. Nascer é daí, um fato e, muitas vezes, uma fatalidade, com o perdão da quase redundância.

Ao longo da vida vamos compreendendo que não somos super-heróis imortais. Os limites de nossos atos não são só estabelecidos pela lei, mas pelas próprias contingências da vida. Vamos também compreender, ao longo dos anos, que há pessoas que nunca vão se convencer disto, porque se consideram acima de tudo e de todos, até o dia em que morrem. Neste dia o rolo compressor da extinção passa sobre os restos de todos, da mesma forma.

No plano concreto da vida temos muitas coisas que podemos fazer além de esperar que “a caixinha de surpresas” se abra. Há muito a ser feito e realizado pelas pessoas para evitar que tudo se transforme numa surpresa, ou seja, todos nós podemos intervir sobre uma parcela das variáveis para conviver com as surpresas de uma forma mais amena.

É por este motivo que os planos podem ser úteis. Eles diminuem a probabilidade de ocorrência de eventos incontroláveis em áreas ou em situações em que as variáveis podem ser minimamente mais controladas. Se você sabe que vai viajar de automóvel não saia com pneus gastos, com pouquíssima gasolina, sem cinto de segurança e com o limpador de para-brisas quebrado. A probabilidade de você passar por problemas aumenta à medida que as normas de segurança deixam de ser observadas. Se você trabalha numa empresa que paga bem e que trata bem os colaboradores, evite gerar desconforto interno. A probabilidade de demissão aumenta quando as normas de convivência sadia são quebradas.

A maioria das pessoas deste planeta tem dificuldade para estruturar planos e para seguir planos. Se não fosse assim talvez a humanidade formasse uma sociedade mais equilibrada. O cérebro humano tende a rejeitar a racionalidade dos planos. Então as pessoas trabalham no campo do “seja o que Deus quiser”, esquecendo que o livre arbítrio nos dá a liberdade de fazer escolhas e muitas escolhas que deixamos para o “acaso” fazer, poderiam ser feitas por nós mesmos, de uma forma mais adequada.

Logicamente, da mesma forma, a escolha do modelo a ser usado para administrar a sua própria vida depende só de você. Fazer da vida uma “caixinha de surpresas” ou deixar a surpresa só para o que não podemos planejar é uma escolha individual. Quanto maior a área ocupada pela caixinha, maior a probabilidade das coisas saírem completamente do seu controle.